História e Evolução das pesquisas sobre CBD
A trajetória das pesquisas sobre canabidiol CBD é marcada por descobertas que transformam nosso entendimento dos canabinoides e abriram caminho para seu uso terapêutico. Desde os primeiros estudos até as descobertas recentes, diversas instituições têm contribuído para essa evolução, com destaque para a Universidade de São Paulo (USP) e centros internacionais de renome. Década de […]

A trajetória das pesquisas sobre canabidiol CBD é marcada por descobertas que transformam nosso entendimento dos canabinoides e abriram caminho para seu uso terapêutico. Desde os primeiros estudos até as descobertas recentes, diversas instituições têm contribuído para essa evolução, com destaque para a Universidade de São Paulo (USP) e centros internacionais de renome.
Década de 40 o início:
Nos anos 1940, os primeiros estudos conseguiram isolar e identificar os compostos presentes na Cannabis, inaugurando o interesse científico pelos canabinoides. Embora o foco inicial estivesse nos efeitos psicoativos do THC, o potencial terapêutico do CBD começou a ser notado desde os primeiros experimentos.
Década de 60:
Durante a década de 1960, o pesquisador Raphael Mechoulam, da Universidade de Jerusalém, desempenhou um papel crucial ao esclarecer a estrutura química do THC. Esse avanço abriu caminho para estudos que também passaram a investigar o CBD e seus mecanismos de ação, marcando o início de uma nova era na pesquisa de canabinoides.
Pioneirismo nos anos 70.
Na década de 1970, pesquisadores brasileiros como Elisaldo Carlini e Isaac Karniol, da Unifesp, fizeram importantes descobertas sobre os efeitos antiepilépticos do CBD. Esses estudos pioneiros foram fundamentais para demonstrar que o CBD poderia ser um agente terapêutico sem os efeitos psicoativos do THC.
Década de 1970 / 1980:
Pesquisas em animais revelaram que o CBD não causava efeitos psicoativos, ao contrário do THC. Em 1980 estudo brasileiro (UNIFESP) liderado pelo Dr Elisaldo Carlini mostrou que o CBD reduzia convulsões em ratos, primeiro indício de seu potencial anticonvulsivante. Já em 1988 ocorreu a descoberta do sistema endocanabinoide (SEC), explicando como o CBD interage com os receptores (CB1 E CB2) para modular funções como dor, humor e inflamação.
Anos 2000: A revolução clínica
- 2003: O primeiro estudo clínico em humanos comprovou a segurança do CBD em doses altas.
- 2013: O caso de Charlotte Figi, uma criança com síndrome de Dravet cujas convulsões diminuíram drasticamente com óleo de CBD, viralizou e impulsionou pesquisas sobre epilepsia refratária.
- 2017: Estudo da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que o CBD reduz ansiedade em pacientes com fobia social.
- 2018: A FDA (EUA) aprovou o Epidiolex, primeiro medicamento à base de CBD puro para tratar síndromes epilépticas raras (Dravet e Lennox-Gastaut).
Avanços recentes (2020-presente)
Neurologia e saúde mental
- Ansiedade e depressão: Estudos da King’s College London (2021) associou o CBD à redução da serotonina, aliviando sintomas de ansiedade generalizada. Já em 2023 uma pesquisa da Mount Sinai (EUA) associou o CBD à redução de pensamentos suicidas em pacientes com transtorno de estresse pós-traumático.
Doenças neurodegenerativas:
- Alzheimer: CBD mostrou potencial para reduzir acúmulo de placas beta-amiloides em estudos pré-clínicos (Universidade de Bonn, 2022).
- Parkinson: Testes clínicos indicaram melhora na qualidade do sono e redução de tremores (Universidade do Colorado).
Oncologia
- Efeito Antitumoral: Estudos em células (2020-2023) sugerem que o CBD induz apoptose (morte celular) em câncer de mama, próstata e glioblastoma, embora ainda não haja consenso clínico.
Dor crônica e inflamação
Em 2022 a revisão da Harvard Medical School destacou o CBD combinado com outros canabinóides (como CBG e terpenos) tem eficácia superior ao isolado.
Desafios e futuro das pesquisas
- Barreiras regulatórias: A classificação da cannabis como droga em muitos países ainda limita estudos.
- Dosagem personalizada: Pesquisas buscam definir doses ideais para cada condição, fatores como peso, metabolismo e genética.
- Nanotecnologia: Sistemas de liberação controlada aumentam a biodisponibilidade do CBD.
- Edição genética (CRISPR): Plantas de cannabis geneticamente modificadas para produzir mais CBD e menos THC.
CBD: Um novo paradigma na medicina
De molécula marginalizada a protagonista de farmacologia moderna, o CBD ilustra como a ciência pode transformar estigmas em soluções. Seus avanços recentes não só validaram usos tradicionais como abriram caminho para tratamentos inovadores. Com investimentos globais em pesquisa clínica (projetados para atingir $16 bilhões até 2027), o CBD promete revolucionar áreas como psiquiatria, neurologia e oncologia, redefinindo o futuro da medicina baseada em evidências.
Contribuição da USP e expansão dos estudos:
A Universidade de São Paulo (USP) consolidou-se como umas das principais referências globais em pesquisa sobre o CBD, superando diversas instituições internacionais em publicações científicas. Pesquisadores da USP, como Francisco Silveira Guimarães, Antônio Waldo Zuardi, José Alexandre Crippa e Jaime Hallak, contribuíram significativamente para o avanço do conhecimento sobre os efeitos ansiolíticos, antipsicóticos, anti-inflamatórios e neuroprotetores do CBD.
Integração entre pesquisa básica e clínica:
A USP, especialmente por meio da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, tem se destacado na integração de estudos experimentais e clínicos. Essa sinergia permitiu a tradução de descobertas laboratoriais para aplicações práticas, contribuindo para o desenvolvimento de tratamentos inovadores e seguros.
Avanços recentes e aplicações clínicas:
Nos últimos anos, ensaios clínicos rigorosos têm evidenciado a eficácia do CBD no controle de crises epilépticas, especialmente em síndromes refratárias, e em tratamentos de ansiedade, distúrbios do sono e condições degenerativas.
Colaborações internacionais:
Centro de pesquisas de países como Estados Unidos, Reino Unido, Itália e Canadá tem colaborado intensamente com a USP e outros grupos brasileiros, formando redes de cooperação que fortalecem o desenvolvimento científico e padronização das formulações de CBD. Parcerias com instituições como King’s College London reforçam o compromisso global em explorar o potencial terapêutico dos canabinoides.
Desenvolvimento de produtos e formulações:
O aprimoramento das tecnologias de extração e a padronização dos produtos à base de CBD permitiram que o composto seja administrado de forma segura e eficaz, tanto em tratamentos clínicos quanto em pesquisas. Essa padronização é essencial para garantir a qualidade dos ensaios clínicos e a segurança dos pacientes.
Conclusão:
A pesquisa sobre o CBD tem avançado de forma impressionante, revelando seu potencial terapêutico em diversas condições, como epilepsia, ansiedade e doenças neurodegenerativas. A contribuição de instituições como a USP tem sido fundamental para consolidar o Brasil no cenário global de estudos sobre canabinoides. Com a aprovação de medicamentos e o crescente corpo de evidências científicas, o CBD vem se destacando como uma alternativa terapêutica promissora. Embora ainda existam desafios regulatórios e a necessidade de mais estudos, o futuro do CBD é promissor, oferecendo novas possibilidades de tratamento e melhorando a qualidade de vida de muitos pacientes.
Referências:
- Mechoulam, R. (1963). “The structure of cannabidiol”.
- Devinsky et al. (2017). “Trial of Cannabidiol for Drug-Resistant Seizures in the Dravet Syndrome”.
- Crippa et al. (2018). “Cannabidiol for the treatment of anxiety disorders: A critical review”.