Alzheimer: o potencial da cannabis medicinal no tratamento
Descubra como a cannabis medicinal pode auxiliar no tratamento do Alzheimer e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

A Doença de Alzheimer (DA) é uma condição neurodegenerativa progressiva caracterizada pela deterioração cognitiva, perda de memória e alterações comportamentais. Atualmente, os tratamentos convencionais são limitados a retardar o avanço da doença, sem oferecer uma cura definitiva. Nesse cenário, a cannabis medicinal tem ganhado destaque como uma alternativa terapêutica promissora. Diversos estudos científicos sugerem que os canabinóides, como o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC), podem proporcionar efeitos neuroprotetores, reduzindo a neuroinflamação e promovendo a neurogênese.
Definição da Doença de Alzheimer (DA)
A Doença de Alzheimer (DA) é um transtorno neurodegenerativo progressivo e fatal, caracterizado pelo declínio cognitivo e perda de memória, além do comprometimento gradual das atividades diárias e do surgimento de sintomas neuropsiquiátricos e comportamentais. A condição se desenvolve quando o processamento de determinadas proteínas no sistema nervoso central é prejudicado, resultando na formação de fragmentos proteicos anormais e tóxicos dentro dos neurônios e nos espaços entre eles. Essa toxicidade leva à degeneração progressiva de células nervosas em áreas específicas do cérebro, como o hipocampo, fundamental para a memória, e o córtex cerebral, essencial para funções como linguagem, raciocínio, reconhecimento de estímulos sensoriais e pensamento abstrato. Nos estágios mais avançados do Alzheimer, a perda da capacidade de realizar tarefas cotidianas se torna evidente, resultando em total dependência do paciente. Além disso, a doença pode estar associada a sintomas como depressão, ansiedade e apatia. O Alzheimer geralmente evolui de maneira lenta e inevitável, sem possibilidades de interromper sua progressão. Após o diagnóstico, a expectativa de vida média dos pacientes varia entre 8 e 10 anos. Segundo o Ministério da Saúde, a doença é classificada em quatro estágios:
• Estágio 1 (forma inicial): alterações na memória, na personalidade e nas habilidades visuais e espaciais;
• Estágio 2 (forma moderada): dificuldade para falar, realizar tarefas simples e coordenar movimentos. Agitação e insônia;
• Estágio 3 (forma grave): resistência à execução de tarefas diárias. Incontinência urinária e fecal. Dificuldade para comer. Deficiência motora progressiva;
• Estágio 4 (terminal): restrição ao leito. Mutismo. Dor à deglutição. Infecções intercorrentes
Bases científicas do uso da cannabis medicinal no alzheimer
Efeitos neuroprotetores da cannabis
A pesquisa realizada por Aso et al. (2016) e publicada no Journal of Alzheimer’s Disease demonstrou que os canabinoides podem reduzir a neuroinflamação e o acúmulo de placas β-amilóides no cérebro, fatores críticos na progressão do Alzheimer. O estudo, conduzido em modelos animais, mostrou que o THC e o CBD combinados melhoram as funções cognitivas e reduzem a neurodegeneração.
Além disso, um estudo de Turner et al. (2021), publicado no Frontiers in Aging Neuroscience, confirmou que o CBD pode desempenhar um papel fundamental na neuroproteção. O estudo destacou a capacidade do CBD de modular o estresse oxidativo e a inflamação neuronal, reduzindo assim os danos cerebrais associados à DA.
Modulação do sistema endocanabinoide
A cannabis atua no sistema endocanabinoide (SEC), um complexo regulador das funções neurológicas. Um estudo publicado por Jiang et al. (2005) na revista Journal of Clinical Investigation revelou que a ativação dos receptores CB1 e CB2 pode estimular a neurogênese no hipocampo, uma área essencial para a memória e aprendizagem. Isso sugere que a cannabis pode potencialmente restaurar funções cerebrais deterioradas pelo Alzheimer.
Evidências clínicas em humanos
Um estudo conduzido por Sousa e Marques (2022) e publicado na Revista Interdisciplinar em Saúde revisou dados clínicos e pré-clínicos sobre o uso da cannabis medicinal na DA. Os autores concluíram que o tratamento pode oferecer benefícios significativos, especialmente na modulação da neuroinflamação e no controle de sintomas comportamentais.
Pesquisa em andamento e novas descobertas
Pesquisadores da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) estão conduzindo uma investigação sobre o papel dos canabinoides no Alzheimer. O estudo busca compreender como o THC e o CBD podem contribuir para a melhora das condições cognitivas e comportamentais de pacientes diagnosticados com a doença.
Além disso, Liang et al. (2022), na revista Free Radical Biology & Medicine, demonstraram que o canabidiol pode inibir processos celulares relacionados ao estresse oxidativo, prevenindo a morte neuronal e promovendo a saúde cerebral em modelos experimentais da DA.
Conclusão
Os estudos mencionados fornecem evidências substanciais sobre o potencial da cannabis medicinal no tratamento do Alzheimer. Embora mais pesquisas sejam necessárias para consolidar diretrizes clínicas definitivas, os achados atuais indicam que o CBD e o THC podem desempenhar um papel importante na neuroproteção e no controle dos sintomas da doença. A incorporação desses compostos no tratamento pode representar um avanço significativo na qualidade de vida dos pacientes e seus cuidadores.
Referências
- Aso, E., et al. (2016). Cannabinoids as potential new therapy for Alzheimer’s Disease. Journal of Alzheimer’s Disease.
- Jiang, W., et al. (2005). Cannabinoids promote hippocampal neurogenesis. Journal of Clinical Investigation.
- Liang, Z., et al. (2022). Cannabidiol inhibits oxytosis/ferroptosis by directly targeting mitochondria independently of cannabinoid receptor. Free Radical Biology & Medicine.
- Sousa, A. P. S., & Marques, J. S. (2022). Uso terapêutico da cannabis na Alzheimer: uma revisão integrativa. Revista Interdisciplinar em Saúde.
- Turner, R. S., et al. (2021). Neuroprotective effects of cannabidiol in Alzheimer’s disease. Frontiers in Aging Neuroscience.
- Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). (2020). Pesquisa sobre canabinoides e Alzheimer. Portal UNILA.
- ABNT (NBR 6023:2018)BRASIL. Ministério da Saúde. Doença de Alzheimer. Brasília, 2024.
- APA (7ª edição)Ministério da Saúde. (2024). Doença de Alzheimer. Governo do Brasil.